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Recursos bióticos

Um dos desafios atuais para uma sociedade sustentável ou de economia verde é a geração de dados confiáveis que permitam avaliar a depleção de recursos naturais frente a sua possibilidade de degradação e escassez (SONNEMANN et al., 2011). Borba et al. (2007) afirmam que, desde os anos 80, a utilização desses recursos é maior do que a sua capacidade de renovação. Além disso, apresentam dados mais recentes que apontam uma utilização dos recursos naturais 25% maior que a sua disponibilidade.

 

O impacto da depleção de recursos pode ser avaliado e quantificado a partir de modelos de caracterização na AICV, dentro da técnica de ACV, que encontram-se em constante desenvolvimento. Como precursores da inclusão da categoria de impacto “recursos” na ACV, Heijungs et al. (1992) diferenciaram os recursos renováveis dos não renováveis. Com a evolução da técnica da ACV, ocorreu uma predominância no uso da classificação: bióticos e abióticos (HEIJUNGS et al., 1992; LINDEIJER, MÜLLER-WENK e STEEN, 2002; STEWART e WEIDEMA, 2005; FINNVEDEN et al., 2009; KLINGLMAIR, SALA e BRANDÃO, 2014).

 

De acordo com Klinglmair, Sala e Brandão (2014), os recursos bióticos se diferenciam dos abióticos por serem vivos, pelo menos até o momento da extração (p.ex. madeira e peixe). Portanto, são parte da biosfera e sua remoção reduz a sua população na natureza (LINDEIJER, MÜLLER-WENK e STEEN, 2002).

 

Stewart e Weidema (2005) apresentam que os recursos bióticos são caracterizados como as plantas e os animais selvagens, os quais devem ser distinguidos das plantas e dos animais cultivados em ambientes controlados pelo homem, haja vista que os impactos causados são diferentes (LINDEIJER, MÜLLER-WENK e STEEN, 2002). Igualmente, Klinglmair, Sala e Brandão (2014) citam que a categoria de recursos bióticos não inclui aqueles produzidos por um processo de produção antrópico (p. ex. gado, peixes de aquicultura, colheitas agrícolas e madeira proveniente de uma plantação), mas sim aqueles extraídos do seu ambiente natural. Por outro lado, Bringezu (2015) afirma que não deve existir distinção entre os recursos bióticos produzidos de forma antrópica e natural dentro da avaliação da sustentabilidade dos recursos.

O impacto resultante do consumo de tais recursos bióticos pode ser avaliado por meio de duas abordagens, conforme a classificação desenvolvida por JRC (2010). A primeira está relacionada a quantidade de recurso renovável utilizado, sendo que essa quantidade é expressa em massa, volume ou exergia. A segunda abordagem é relativa à quantidade do recurso renovável utilizado, considerando a sua taxa de regeneração.

 

Os modelos que se encaixam na primeira abordagem são aqueles muito próximos do ICV e, por isso, são classificados como RAM, os quais são abordados em Alvarenga et al. (2016). Além dos impactos referentes à depleção de recursos, Lindeijer, Müller-Wenk e Steen (2002) lembram que existem também os impactos resultantes da extração desses recursos como os resultados das emissões para o solo, ar e água. Contudo, esses impactos são tratados em outras categorias de impacto na AICV, como a toxicidade, a ecotoxicidade e a eutrofização.

 

O grupo de pesquisa focou na análise dos modelos de caracterização dos impactos relativos à depleção dos recursos bióticos, dentro da segunda abordagem de JRC (2010). Os resultados do estudo para recomendação de modelos de AICV para recursos, desenvolvido e apresentado por JRC (2011), mostram que não houve qualquer recomendação para a categoria de recursos bióticos, indicando a necessidade de novos desenvolvimentos que contemplem esta categoria. Em função disto, o presente capítulo tem como objetivo principal realizar uma nova análise considerando desenvolvimentos mais recentes acerca deste tema, visando recomendar o modelo mais adequado para a avaliação da depleção de recursos bióticos e com maiores possibilidades de regionalização para o Brasil.

SONNEMANN, Guido et al. Global guidance principles for Life Cycle Assessment (LCA) databases: a basis for greener processes and products. 2011.

BORBA, Mônica Pilz et al. Pegada Ecológica: Que marcas queremos deixar no planeta. Brasília: DF, 2007.

 

HEIJUNGS, Reinout. et al. Environmental life cycle assessment of products: Guide anbackgrounds. Leiden, NL: Leiden Univ Centre of Environmental Science (CML). 1992.

 

LINDEIJER, Erwin et al. Impact assessment of resources and land use. Udo de Haes et al. Life cycle impact assessment: Striving towards best practice. SETAC, Pensacola, Florida, 2002.

STEEN, Bengt. A systematic approach to environmental priority strategies in product development (EPS): version 2000-general system characteristics. Gothenburg: Centre for Environmental Assessment of Products and Material Systems, 1999.

STEEN, Bengt. A systematic approach to environmental priority strategies in product development (EPS): version 2000-Models and data of the default method. Chalmers tekniska högsk., 1999.

JOINT RESEARCH CENTRE - Institute for Environment and Sustainability: International Reference Life Cycle Data System (ILCD) Handbook- Analysing of existing Environmental Impact Assessment methodologies for use in Life Cycle Assessment. First Edition, Luxemburg: Publications Office of the European Union, 2010. 105 p.

 

JOINT RESEARCH CENTRE - Institute for Environment and Sustainability: International Reference Life Cycle Data System (ILCD) Handbook- Recommendations for Life Cycle Impact Assessment in the European context. First Edition, Luxemburg: Publications Office of the European Union, 2011. 145 p.

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