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Definição do Objetivo e do Escopo 

A primeira fase da ACV especifica os procedimentos necessários para a definição do objetivo e do escopo do estudo, de forma clara e consistente, de acordo com a aplicação almejada.

O objetivo do estudo deve retratar as razões do estudo e buscar a identificação dos pontos críticos e a aplicação destinada a determinado público alvo. Alguns exemplos de objetivos são (i) a comparação entre diferentes produtos exercendo a mesma função e (ii) a identificação de etapas do ciclo de vida em que possam ser realizadas melhorias e de novas possibilidades de desenvolvimento de novos produtos ou elementos (EEA, 1997).

O escopo do estudo compreende a definição do sistema a ser estudado. Contempla as características de desempenho de um produto e a quantificação das funções exercidas, ou seja, sua unidade funcional; o estabelecimento das fronteiras do sistema; e a especificação dos requisitos de qualidade dos dados e dos critérios utilizados para a inclusão e/ou exclusão de informações relativas a entradas e saídas (ISO, 2006b).

Produtos, processos ou serviços podem assumir diversas funções. Entretanto, os resultados de uma ACV devem estar relacionados à apenas uma única referência, ou seja, a uma determinada unidade funcional (BAUMANN; TILLMAN, 2004). Ela se torna fundamental na comparação entre sistemas, uma vez que fornece uma padronização matemática dos dados de entrada e saída e promove uma equivalência entre os sistemas analisados (ISO, 2006b).

A unidade funcional deve ser claramente definida e consistente com o objetivo e escopo do estudo. Ela deve incluir tanto uma descrição quantitativa quanto qualitativa (WENZEL; HAUSCHILD; ALTING, 1997). Sua quantificação é feita por meio de fluxos de referência, ou seja, quantidade de produto necessária para cumprir determinada função, durante determinado período de tempo. Desta forma, sua definição deve incluir dados sobre a eficiência do produto e sua durabilidade e padrões de qualidade de desempenho (EEA, 1997).

Os limites ou fronteiras do sistema determinam quais processos e fluxos elementares serão incluídos na ACV e permitem definir o nível de detalhamento do estudo (exemplo: Figura 2). Estudos com detalhes em excesso podem gerar altos custos econômicos e não atender à demanda de tempo para a sua realização. Por vezes, podem não apresentar grandes influências nos resultados. Segundo Baumann e Tillman (2004), vários são os limites do sistema a serem especificados: geográficos, temporais, técnicos e os aqueles em relação aos sistemas naturais.

O aspecto geográfico torna-se relevante na medida em que diferentes etapas do ciclo de vida podem ocorrer em diferentes localidades e as tecnologias utilizadas e a sensibilidade do meio ambiente aos diversos poluentes podem diferir de uma região para outra (BAUMANN; TILLMAN, 2004). Segundo Wenzel; Hauschild e Alting (1997), essas variações ocorrem principalmente nas etapas de extração de matéria-prima, produção de materiais e manufatura do produto.

Figura 2. Esquema simplificado das etapas do ciclo de vida de um edifício, da extração de matérias primas até o tratamento dos residuos de demolição.

Com relação ao horizonte temporal, é necessário especificar, dentro do contexto de longevidade do produto, a extensão do estudo, de forma a definir o tipo de dados a serem coletados: dados presentes ou dados provenientes de cenários futuros.

A norma ISO 14044 apresenta exemplos de alguns elementos, pertencentes a vários estágios do ciclo de vida, os quais devem ser levados em consideração (ISO, 2006b):

  • fluxos de entrada de materiais e energia e fluxos de saída de emissões e resíduos;

  • distribuição e transporte;

  • produção/ uso de combustíveis, eletricidade e calor;

  • uso de produtos;

  • recuperação de produtos usados, como reuso, reciclagem de materiais e recuperação de energia;

  • outras considerações relacionadas à avaliação de impacto.

 

Durante esta delimitação, unidades de processo e fluxos não incluídos devem ser devidamente expostos e justificados.

Com relação aos requisitos de qualidade dos dados, esses devem ser caracterizados por meio de aspectos quantitativos e qualitativos. Os aspectos qualitativos envolvem parâmetros temporais, relativos ao período de coleta dos dados e a idade dos mesmos; geográficos, voltados para aspectos locais, regionais, nacionais, continentais ou globais; e tecnológicos, referentes às tecnologias utilizadas em determinado processo. Torna-se também necessário especificar a origem dos dados, seja ela de fontes publicadas, ou obtida por meio de dados coletados em campo, e se os mesmos foram medidos, calculados ou estimados.

A norma ISO 14044 (ISO, 2006b) estabelece ainda que a qualidade dos dados esteja submetida a requisitos como sua precisão, completeza; representatividade, consistência e reprodutibilidade, os quais devem ser considerados. A precisão é uma medida da variância dos dados para cada categoria de dados. A completeza refere-se à percentagem de dados primários em relação a dados em potencial. A representatividade é a avaliação qualitativa do grau em que os dados refletem a veracidade da população de interesse. A consistência refere-se à avaliação qualitativa de quão uniforme os estudos de metodologia são aplicados aos vários componentes da análise. Finalmente, a reprodutibilidade trata da avaliação qualitativa da extensão até a qual as informações sobre a metodologia e os valores permitem a reprodução dos resultados relatados no estudo (EEA, 1997).

(*) Texto elaborado por Danielle Maia de Souza.

Referências

BAUMANN, H.; TILLMAN, A.M. The Hitch Hiker’s Guide to LCA: an orientation in life cycle assessment methodology and application. Lund: Studentlitteratur, 2004. 543p.

EEA. European Environmental Agency. Life Cycle Assessment: a guide to approaches, experiences and information sources. Brussels: EEA, 1997. 119p. (Série Environmental Issues Series, n. 6).

ISO. International Organization for Standardization. ISO 14044. Environmental Management – Life Cycle Assessment – Requirements and Guidelines. Geneva: ISO 2006b. 46p.

WENZEL, H.; HAUSCHILD, M.; ALTING, L. Environmental Assessment of Products. Volume 1: methodology, tools and case studies in product development. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 1997. 543p.

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